O Setembro Verde é um movimento nacional de conscientização pela inclusão e acessibilidade das pessoas com deficiência (PcDs). A campanha ganhou força a partir de 2015, impulsionada pela Federação Nacional das APAEs, e tem como data símbolo o dia 21 de setembro, instituído por lei como o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência.
A escolha do verde está ligada ao Dia da Árvore (também em 21/09), simbolizando renovação, esperança e florescimento de uma sociedade mais justa e inclusiva. O movimento visa combater o capacitismo – que é o preconceito e a discriminação baseados na ideia equivocada de inferioridade ou incapacidade das PcDs – e dar visibilidade às suas lutas e conquistas.
A seguir, vamos entender como o Setembro Verde se relaciona com o mercado de trabalho – e como esse movimento pode reforçar os direitos dos PCDs.
A inclusão de PCDs no mercado de trabalho
Um dos pilares do Setembro Verde é a luta pela efetiva inclusão das PcDs no mercado de trabalho, assegurando não apenas o acesso, mas também a permanência e a possibilidade de crescimento profissional.
A Lei de Cotas (Art. 93 da Lei nº 8.213/91) é um instrumento importante nessa jornada. Ela estabelece que empresas com 100 ou mais funcionários devem preencher uma parte de seus cargos com pessoas com deficiência ou beneficiários reabilitados. O percentual varia de 2% a 5%, dependendo do total de empregados.
Importante: A definição de pessoa com deficiência, conforme a Lei Brasileira de Inclusão (LBI – Lei nº 13.146/2015), vai além de uma condição médica. Ela considera a interação entre os impedimentos de longo prazo (físicos, mentais, intelectuais ou sensoriais) e as barreiras existentes na sociedade que podem obstruir sua participação plena e efetiva em igualdade de condições com as demais pessoas. A avaliação é biopsicossocial, ou seja, multiprofissional e interdisciplinar, focando na funcionalidade do indivíduo e não numa suposta “doença” a ser curada.
Direitos e benefícios do trabalhador PcD
Além da garantia de oportunidade através das cotas, os trabalhadores PcDs têm direitos específicos:
– Acessibilidade: A empresa é obrigada a fornecer condições de acessibilidade arquitetônica, comunicacional e atitudinal, além de adaptações necessárias no posto de trabalho (como tecnologias assistivas, softwares específicos, mobiliário adaptado) para que o trabalhador exerça suas funções com autonomia e segurança. A responsabilidade de adaptar o ambiente é da empresa, não do trabalhador.
– Não discriminação: É proibido qualquer tipo de discriminação em razão da deficiência em processos seletivos, admissão, remuneração, treinamento, promoção ou demissão. Práticas de assédio moral ou capacitismo são ilegais.
– Jornada de trabalho: Em alguns casos, dependendo da natureza da deficiência, pode ser negociada uma jornada de trabalho flexível ou home office, desde que haja acordo entre as partes e não haja prejuízo à atividade.
– Auxílio-inclusão: Benefício de prestação continuada devido à pessoa com deficiência moderada ou grave que ingressa no mercado de trabalho, destinado a auxiliar no custo de suas necessidades específicas (não é um benefício trabalhista, mas sim do INSS).
PCD: o que fazer se seus direitos não são respeitados?
Infelizmente, a não observância desses direitos ainda é uma realidade. Se você é uma PcD e enfrenta:
– Dificuldade para entrar no mercado de trabalho, mesmo com a Lei de Cotas.
– Falta de adaptações ou acessibilidade no ambiente de trabalho.
– Discriminação, assédio ou diferença salarial.
– Demissão discriminatória.
Você não está sozinho(a) e pode buscar seus direitos. O caminho é documentar todas as situações (e-mails, mensagens, testemunhas, laudos) e procurar ajuda especializada. A importância do Setembro Verde está, acima de tudo, de ressaltar temas como este e levar conhecimento às pessoas com deficiência acerca dos seus direitos.
A importância dos sindicatos e de uma consultoria especializada
Diante de qualquer violação de qualquer direito em âmbito trabalhista, os PCDs podem buscar duas frentes de apoio:
– Sindicato da categoria: O sindicato é a primeira instância de representação coletiva dos trabalhadores. É essa instituição que pode intermediar conflitos, negociar com a empresa, oferecer orientação inicial e até mover ações coletivas para garantir que os direitos das PcDs sejam cumpridos por todos os empregadores da categoria. Procurar o sindicato fortalece a luta de todos.
– Advogado trabalhista: Para casos individuais mais complexos ou quando a via sindical não for suficiente, é essencial consultar um advogado especializado em direito trabalhista. Ele irá analisar seu caso concreto, indicar as melhores estratégias (que podem passar por uma reclamação trabalhista, ação por danos morais etc.) e representar seus interesses perante a Justiça do Trabalho, buscando a reparação adequada.
Inclusão é mais do que cota: é direito do trabalhador
O Setembro Verde nos lembra que a verdadeira inclusão vai além de preencher uma cota. É sobre garantir que toda PcD tenha seu direito ao trabalho digno, respeitado e valorizado, em um ambiente acessível e livre de preconceitos.
Conhecer seus direitos é o primeiro passo. Cobrar das empresas e do poder público é um dever de todos. E, se necessário, buscar ajuda no sindicato ou com um advogado é a forma de transformar a luta por respeito em conquistas reais. A inclusão, quando efetiva, beneficia toda a sociedade, tornando-a mais diversa, justa e humana.
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